June 19, 2018

NL#4 – Sense8: o renascimento das Wachowskis

Quando tive a ideia de escrever este texto (sim, porque recuso-me a dizer que estou a criticar esta série), não tinha bem ideia do que escrever. Sense8 é uma série tão complexa que não sei bem por onde começar a descrever o que penso, mas depois de pensar um pouco e procurar alguma inspiração, percebi o porquê da minha dificuldade.

Sense8, embora tenha uma premissa com base em princípios de sci-fi, extrapola completamente esse princípio para abraçar a natureza humana em todos os seus aspetos, apresentando uma perspetiva renovada sobre assuntos considerados mais sensíveis na sociedade como a representação LGBT+, relações sexuais saudáveis e pouco saudáveis, a cultura machista em certos países, a pobreza extrema, etc.

Tenho a dizer, antes de mais, que penso que esta série marcou o renascimento das Wachowskis das cinzas a que tinham ficado reduzidas depois da trilogia Matrix. Nem vamos falar sequer de nódoas de filmes como Cloud Atlas ou Jupiter Ascending, que a única coisa digna de nota era o elenco espetacular que conseguiram reunir (estamos a falar da participação de atores como Eddie Redmayne e Tom Hanks).

Por falar nestes filmes, atores que trabalharam antes com as Wachowskis, como Doona Bae (Cloud Atlas) e Tuppence Middleton (Jupiter Ascending), nunca perderam a fé nestas mentes artísticas, e talvez seja por isso que Sense8 resulta tão bem. Os nomes que vos disse talvez não vos digam nada, mas para conhecedores da série se vos disser que estas atrizes são a Sun e a Riley aí a conversa é outra.

Para mim, esta série resulta e torna-se interessante de ver por causa da confiança que existe entre todos. Estamos a falar de uma série que é filmada em quatro continentes diferentes, uns dez países mínimo, e com um grau de cenas explícitas elevado para o que se considera a norma (em bom português, falamos de sexo e orgias com um número elevado de participantes). Tem de existir confiança naquilo que se faz e que se representa para conseguir que uma série, que até tem um princípio relativamente básico (e se conseguisses partilhar a tua consciência com pessoas que nunca conheceste?), seja uma bandeira para o que existe de bom e diferente na natureza humana, e capte os corações de milhares de pessoas espalhadas pelo mundo.

Admito, não comecei a ver Sense8 na altura que devia. Quando ganhei coragem, tinha já sido lançado o final especial de duas horas que representava o fim da série como é no Netflix (como devem calcular, um projeto desta magnitude custa demasiado dinheiro para o retorno que tinham dos fãs a nível financeiro) e já os fãs se uniam para tentar reverter o fim da série. Mas quando vi, devorei o que havia para ver em quatro dias. Com exceção do final, para mim a série é uma das melhores que saiu nos últimos tempos. A escrita é boa, e os atores que a trazem à vida são excecionais.

Faço apenas uma ressalva, e esta é sobre o final épico que pretende encerrar esta temporada. As críticas que encontrei são mistas, para dizer o menos. Na minha opinião, embora tenha sido épico na sua glória, o final não tinha grande ligação em termos de continuidade com o resto da série. Foi quase como se tivessem pegado em fragmentos diferentes de escrita de diferentes pessoas e cosido tudo numa manta de retalhos que não fez justiça nem às personagens, nem à história que contavam.

Mesmo assim, vale a pena. Sense8 não é uma história leve, nem por sombras, mas é uma daquelas séries que nos faz pensar e apreciar o que temos. Pelo menos, é assim que me sinto. E é disso que a série nos fala: de sentimentos. Não vejam por ver, vejam e sintam.

 

Autoria: Ludovina Cardiga