June 5, 2018

NL#3 – Battlestar Galactica: horas de diversão com pinceladas de traição e interlúdios para molhar o pincel

Ora bem… hoje trago até meus excelentissimos dois inteiros (aos bocados seria um pouco estranho) fans (o meu cão e a minha mãe) ou aos transeuntes que tropeçam neste texto, não um filme como é hábito MAS…. um jogo de tabuleiro que me é muito próximo. Há quem diga que até quase que poderia fazer o amor com o mesmo de tanto que gosto dele. Nada poderia ser mais próximo da realidade. 🙂

Mas foquemo-nos no essencial… eu… quero dizer… cof, cof, cof… o jogo… Battlestar GALACTICA :D. Sim, é dos meus jogos de tabuleiro preferidos e são por norma 4 a 6 horas de pura diversão pinceladas de “facadas nas costas” do amigo mais próximo e tudo na pura da galhofa onde palavras alternativas a filha de uma cortesã, vou-te fazer atingir o climax através do acto da copúla, entre outras na onda desse mesmo calibre costuma ser um denominador comum. Tudo num espírito de alegre fraternidade onde os gritos e berros e o “dar ares”  na base do vou sugar-te todo o ar que necessitas para a arte requintada da respiração acabam por ficar constreitos à mesa de jogo. Sim, eu disse 4 a 6 horas em média. E por norma o que acontece é o seguinte, para quem não sabe nada de Galactica… “ah, coiso e tal, isso é bueda tempo”… e quando dão oportunidade ao jogo depois dizem “bolas, nem dei pelo tempo passar”. Pois é amiguinhos… isto é em relação a quem não conhece o Universo da série (principalmente o da nova série). Conto pelos meus dedos o número de pessoas que jogaram e não gostaram… sim, raríssimas (como a fundação…. too soon? 🙂 )… Do outro lado, os que gostam e estes dividem-se principalmente em duas categorias: os que viram a série e os que não viram a série. Quem pensa que precisa de ver a série para aprender ou gostar do jogo… desengane-se. Agora, já muito boa gente que não conhecia a série, começou a vê-la graças a ter jogado o jogo. E está tão mal feito que está cheio de cenas e diálogos da série que consegue mesmo assim, por um lado não fazer spoilers para quem não viu a série e por outro para quem viu, ainda aumentar… eu diria assim uns 70%… mais em termos daquilo que já se gostaria naturalmente do jogo.

Battlestar Galactica tem um conjunto de livros de regras sobre o jogo base e expansões, que ascendem a mais de 100 páginas, num novelo demoníaco que encarna uma  luta titânica onde as regras novas se degladiam com as arcaicas. Sim, eu sei… pode ser assustador à primeira vista, bem como aquilo que costuma ser 30 minutos de explicação, um argumento para demover o mais casual dos jogador de tabuleiro. Este não é um jogo de todo para iniciantes que está a dar os primeiros passos no que toca a jogos de tabuleiro. Pois… se bocês aguentaram até aqui têm toda a legitimidade para se virarem e perguntarem “ò ilustre, então porque uma crítica de um jogo tão… aparentemente complexo?”. Pois é. É um ponto válido. No entanto, na minha experiência em jogos de tabuleiro já me cruzei com muito boa gente dita iniciante e que ficou completamente vidrada no jogo.

Sempre que começo a explicar o jogo, faço-o sempre da mesma forma. “Neste jogo sendo humano existe uma única forma de ganhar o jogo e muitas formas de o perder”. Sim, pode-se ser Cylon… ou Cylônio em grafismo português do Brasil… e por vezes sem se o saber. Battlestar Galactica conta-nos a história da luta dos humanos pela sobrevivência ao Armageddon Cylon, onde a única nave militar humana que escapou foi a Battlestar Galactica, (a nave mais velha da frota que estava prestes a se tornar ferro velho espacial) que é o último bastião de toda a frota humana que conseguiu escapar à aniquilação total levada a cabo pelos Cylons.  Mas que raio são os Cylons, perguntam todos aqueles que não viram uma das séries mais geniais de ficção científica deste século. Os Cylons vêm da velha permissa de os humanos criarem robots que a determinado dia se revoltam contra os seus opressores humanos e procuram a vingança através da sua exterminação. E este é o ponto de partida do jogo onde cada jogador tem a sua própria personagem que poderá ser humana, Cylon ou…. algo estranho assim no meio que só cria ainda mais caos em todo o setting do jogo. Os humanos lutam pela sobrevivência saltando de sistema em sistema até encontrarem porto seguro para se esconderem dos Cylons e garantir a sua sobrevivência enquanto os Cylons pela exterminação dos humanos, esse cancro que infesta a Galáxia.

Sim… é muita coisa… mas ao mesmo tempo, o jogo em termos de mecânica é estupidamente simples. Cada jogador no seu turno faz 3 coisas diferentes pela seguinte ordem: Movimento, Acção e Crise. E já está. Já podem jogar Galactica 🙂 . “Ok, coiso e tal, mas Ilustre, esse tempo de explicação e jogo e é só isso?” Sim, é só mesmo isso. O resto é só ler os que as cartas dizem. O jogo para se jogar é bastante simples para se compreender a base mas não tentem se aperceber de todas as nuances ao inicio ou rapidamente se vão perder. E sim, o jogo é sempre a perder, onde para se ganhar algo… tirando o final do jogo é um autêntico milagre. Perde-se População, Comida, Moral e Combustível, naves militares e civis. Por alguma razão a última coisa que cada jogador faz é biscar uma crise e resolvê-la. Depois, os Cylons quando se revelam (sim, porque começam todos como humanos e temos de andar numa de Sherlock Holmes e tentar pregar à parede quem anda a sabotar a nossa sobrevivência) ainda por cima vão buscar uma Super-Crise para os humanos resolverem.

É um jogo que acho que poderia escrever uma biblia sobre o mesmo, que não faltaria material para tal, nem que fosse só a falar da experiência de jogo ao ponto de passado ANOS ainda se falar de determinadas facadas, reviravoltas épicas, nos lembrarmos das pessoas que estavam na mesa mesmo com a rotatividade de jogadores e jogos realizados.  Recomendo o jogo para 6 ou 7 jogadores embora a 5 também fique equilibrado. Tem o dom de além de ter um alto factor de rejogabilidade sendo quase virtualmente impossível haver 2 jogos iguais ou sequer semelhante.  Mesmo assim chega-se quase sempre ao final sem se saber se ganham os humanos ou os Cylons. Ah, e o Baltar é sempre um frakking Cylon… mesmo que não o seja. Destaco finalmente outro aspecto que adoro no jogo que é o facto de não haver eliminação de jogadores. Ou seja, a vossa personagem pode ser mandada a fazer uma visita ao espaço sem fato via Airlock ou mesmo vilmente executada, e o jogador continua a jogar com outra personagem. E sim… para quem viu a série o jogo consegue dar a sensação que se está dentro da Galactica. Ah…. adoro o cheiro a tostadeira. 🙂

So say we all!!

Crónica por: O ilustre desconhecido, um gajo brejeiro que até aprecia cinema…. e jogos de tabuleiro