May 19, 2018

NL#2 – Como acabar com o Mundo ou as milhentas desgraças que nos podem acontecer – Parte 1

Armageddon Não-Antropogénico

Vivemos numa rocha instável, rodeados por uma frágil bolha de ar, mantida no lugar apenas por um campo de forças natural. Entre as ameaças que vêm do interior da Terra e aquelas que o Espaço pode lançar contra nós, a nossa existência pode ser vista como extremamente precária podendo acabar num ápice, sem que possamos fazer grande coisa para o contrariar.

Ameaças terrenas

Vulcanismo

Com pelo menos seis supervulcões activos identificados, capazes de gerar erupções de grau 8, o mais alto no Índice de Explosividade Vulcânica, o fim da civilização humana pode estar ao virar da esquina. Erupções maciças como estas podem trazer consequências globais, que podem aquecer ou arrefecer a Terra durante décadas ou séculos. Dependendo do tipo de explosão, as cinzas e gases lançados para a atmosfera podem bloquear ou reflectir a luz solar a ponto de causarem um arrefecimento abrupto de 5 a 10 graus de média a nível planetário, ou libertar gases suficientes para despoletar um efeito de estufa sem precedentes.

A erupção do Monte Tambora, em 1815, está classificada como de grau 7 e foi responsável pelo “Ano Sem Verão” de 1816, com efeitos globais de arrefecimento e total falha de colheitas em diversos pontos do planeta. Com três desses supervulcões identificados em território norte-americano, a ameaça à economia global de mesmo uma explosão menor é assustadoramente real. Mesmo descontando o impacto global climático de uma erupção deste género, estima-se que uma erupção do Yellowstone cobriria a quase totalidade do território norte-americano com uma camada de cinzas, que, nos locais mais afastados ainda chegaria a ter entre 1 a 3 mm de espessura. Seria suficiente para fazer falhar as colheitas em todo o território, tornar a maior parte das estradas e vias aéreas intransitáveis, causar problemas respiratórios graves à maioria da população e rebentar com muitos dos transformadores da rede eléctrica.

Alterações Climáticas Naturais

A Humanidade desenvolveu-se num período relativamente estável e temperado da história climática da Terra. Mas o Homo Sapiens ocupa este planeta há apenas 200.000 anos e o clima planetário, ao longo de toda a sua história, já cobriu um espectro de temperaturas que vai do fenómeno “Terra Bola de Neve” até a palmeiras a crescer na Antártida. A variação necessária para destruir toda a nossa infraestrutura alimentar pode ser de apenas cerca de 5ºC. Este tipo de variações climáticas tende a acontecer ao longo de períodos de milhões de anos e a Humanidade teria um período largo de adaptação às novas condições.

Pandemia Global

A evolução natural aplica-se a toda a vida biológica e a microbiológica não é excepção. Vírus e bactérias sofrem constantes mutações e estirpes relativamente inofensivas, actualmente, podem tornar-se mortais de um dia para outro. Acresce o facto de que a nossa invasão de ecossistemas previamente contidos liberta microrganismos com os quais a Humanidade teve pouco ou nenhum contacto prévio e que a nossa mobilidade global torna o contágio uma quase certeza.

Novos Patogenos e Neobiota

Embora normalmente aconteça por causa de algum tipo de intervenção humana, a propagação de espécies invasoras (neobiota) acontece naturalmente, depois de introduzidas. E tende a destruir o ecossistema instalado, onde quer que aconteça. A evolução natural de um produto biotecnológico também poderá trazer consequências desastrosas e inesperadas.

Inversão do campo magnético da Terra

A cada 450.000 anos, em média, o campo magnético da Terra dá uma cambalhota e inverte os seus pólos. Isto em si, embora possa causar alguns problemas, não é demasiado grave. O maior problema é que essa cambalhota costuma demorar cerca de 100 anos a ser dada, período durante o qual a intensidade do campo magnético se torna extremamente baixa. Todas as partículas e radiação cósmica deflectidas pelo campo viajariam sem problemas até à superfície do planeta, transformando-a numa frigideira gigante.

No próximo número: Ameaças cósmicas, ou tudo o que nos pode cair em cima da cabeça

 

Autoria: Ana Carrilho